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Miranda, filosofia da ciência

    F. de l. da obra: Miranda, Luiz Felipe Sigwalt de. Introdução histórica à filosofia das ciências. Curitiba: Intersaberes, 2016 (abr. loc.: M2016i). Tema: Filosofia da ciência
Sumário

apresentação

Trata das questões de fundamento das ciências: esse fundamento não pode ser objeto da própria ciência fundamentada [1].

Visa ao espírito inquiridor que não se satisfaz com explicações superficiais e busca "alento na diversidade".

Questão proposta: o que se espera de um conhecimento tido como científico?

filosofia e ciência

introdução à filosofia

Por que o conhecimento parece ser matéria de filosofia, e a telefonia móvel não? O que define uma questão como filosófica?

Platão: teoria do conhecimento por um viés matemático/geométrico; aquilo que provém da sensação está em constante mudança e por isso impossibilita o conhecimento genuíno. A possibilidade de conhecimento depende de um mundo suprassensível de ideias perenes e incorruptíveis. A Alma ou mente vê as ideias (entes metafísicos), arquétipos das "coisas da experiência", e delas nos recordamos por ocasião da experiência sensível (doutrina da reminiscência).

Importância da “questão” na filosofia: sem uma questão ou problema os argumentos tornam-se mera arbitrariedade. É a comunhão de questão investigada que permite a unidade entre teorias antagônicas (a questão as reúne num todo mais complexo).

conceito de atividade filosófica
Atividade filosófica é voltada à composição e “dissolução” de questões filosóficas. Filosofia é o resultado da atividade filosófica.
    A tarefa da filosofia não é responder às questões mas dissolvê-las, “e as questões em si serão destituídas de sentido” (m.c.: não entendi).
O que distingue uma questão qualquer de uma questão filosófica? 1º) A pergunta tem de fixar o problema (questão ≠ problema); 2º) as questões filosóficas são na forma “O que é X?”; 3º) as questões filosóficas conduzem a paradoxos/aporias, mostrando ausência de clareza reflexiva dos conceitos fundamentais e das intuições que eles expressam.
    O paradoxo é, de modo geral, um problema que mostra um conflito real ou aparente entre nossas intuições.
O discurso racional é distinto do discurso lógico; racionalidade é esclarecimento, intersubjetividade e reflexividade.

características da ciência

Características da ciência: a) observação, b) análise, c) resultados, d) modelo teórico, e) previsões, f) método geral e rigoroso.

Importância do modelo teórico

efeitos colaterais da ciência
“Efeitos colaterais” produzidos pela ciência: incapacidade de rascunhar qualquer coisa do mundo, pois não abarca a totalidade daquela determinada coisa; a atitude científica objetivante distancia o sujeito do seu objeto, e essa distância “esmaece o mundo”. E o cientista pode não ser e às vezes não é imparcial, tem motivações comerciais, políticas ou religiosas.

filosofia, ciência e filosofia da ciência

Características do conhecimento científico: 1) aponta para certeza; 2) se preocupa com a base empírica; 3) é transitório (sujeito a “revoluções”; 3) valoriza o método.
    Ou, noutra parte: atividade a) metódica, b) rigorosa, c) experimental, d) indutiva, e) matemática e f) dedutiva.
Sócrates: Epistemé (ciência) vs. doxa (opinião). Aristóteles: ciência é conhecimento pela causa, e portanto é conhecimento demonstrativo (silogismo).

Bacon e o novo método
Francis Bacon, Novum organum: nova ciência, a) investigação da natureza, b) fundada no raciocínio indutivo e c) na experimentação regulada e controlada. Novo conceito de experiência: variações e concordâncias de fenômenos controlados metodicamente.

Newton introduz a matemática
Isaac Newton: subverteu esse modo indutivista “ingênuo” e incorporou ao método da ciência a necessidade e a universalidade por um viés matemático. As leis naturais devem necessariamente prever um fenômeno.

senso comum e conhecimento científico

senso comum

senso: capacidade de julgar em geral. Capacidade de emitir juízo (ato de decidir, julgar, sobre algo).

Kant, juízo sintético e analítico
Kant distingue (veja abaixo) a) juízo sintético, que amplia o conhecimento, e b) juízo analítico, que não o amplia:
    (a) Dada uma proposição, seu predicado acrescenta algo à compreensão do sujeito. Proposição: enunciado do tipo “sujeito + verbo + predicado”; é uma “frase” que pode ser declarada verdadeira ou falsa. Divide-se em:

      (a1) a priori: o acréscimo de conhecimento acerca do sujeito, que é fornecido pelo predicado, é necessário, universal, independe da experiência;

      (a2) a posteriori: o acréscimo de conhecimento acerca do sujeito, que é fornecido pelo predicado, deriva da experiência; é, portanto, contingente e não universal.

    (b) Proposição em que o predicado já está de certa forma contido no conceito do sujeito, por exemplo, “corpos são extensos”, onde o predicado “extenso” já está incluído no conceito de “corpo”. Esses juízos são necessários e universais, ou seja, independe da experiência, porque decorrem diretamente do princípio da não contradição. Mas nada acrescentam ao nosso conhecimento.
Senso comum é um juízo (afirmação de algo como verdadeiro) compartilhado, corrente e aceito por certo meio social. Kant: o “considerar-algo-verdadeiro” é evento do entendimento, que exige causas objetivas na mente de quem julga, a saber (em três graus de suficiência, segundo um critério objetivo e outro subjetivo) a) opinar, b) crer e c) saber.
    (a), opinar, é subjetiva e objetivamente insuficiente;

    (b), crer, é subjetivamente suficiente e objetivamente insuficiente;

    (c), saber, é objetiva e subjetivamente suficiente; contém convicção (suficiência subjetiva, para mim) e certeza (suficiência objetiva, para qualquer pessoa).
Para os latinos senso comum era gosto, costume, modo comum de viver ou falar.
    Cícero: “na eloquência, o erro mais terrível que pode ser cometido é desviar-se ... do senso comum”. Thomas Reid considerava o senso comum o fundamento de toda filosofia argumentativa.
características do senso comum
características do senso comum: a) subjetividade, b) qualidade (baseia-se na observação direta), c) heterogeneidade (saber provável), d) generalização (por indução de causa e efeito).

senso comum vs. conhecimento científico

Hume e o problema da indução
Hume e o problema da indução: o argumento que sustenta o princípio de indução é o próprio princípio de indução: como o princípio da indução se mostrou bem sucedido em diversos casos, por indução dizemos que ele será bem sucedido em outros ou todos. É um argumento circular.

características do conhecimento científico: a) objetivo (busca estruturas universais e necessárias das coisas), b) quantitativo (busca critérios de comparação entre coisas que parecem diferentes) c) homogêneo (busca leis gerais), d) generalizante (reúne individualidades sob as mesmas leis ou padrões), e) diferenciador (distingue os que parecem iguais), f) causal (estabelece relações causais).

A ciência é uma atividade intelectual-experimental, usa métodos que separam os elementos subjetivos e objetivos de um fenômeno, e constrói o fenômeno como um objeto do conhecimento controlável, verificável, interpretável e retificável por nova prova. Usa o rigor para relacionar fatos numa explicação racional unificada.

Teoria (seria o mesmo que modelo teórico?): conjunto sistemático de conceitos que explica e interpreta relações de a) causas e efeitos, b) identidade e diferença, c) dependência, entre os objetos do campo estudado.

concepção de ciência nas idades antiga e medieval

idade antiga

Pré-socráticos
Ciência, para os gregos, era conhecimento verdadeiro. Ter ciência era conhecer a verdade de algo. Questões, para eles, eram
  1. discriminar conhecimento verdadeiro de não verdadeiro
  2. descobrir os limites do conhecimento (o que podemos conhecer?)
  3. descobrir como se dá o acesso ao conhecimento (como chegamos a conhecer?)
Parmênides
Parmênides: distingue verdade de aparência, conhecimento e crença. O caminho da verdade está ligado à teoria do ser, e o da crença às aparências. “O ser é ingênito, indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim, não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo”. “O mesmo é pensar e ser”. As aparências só parecem ser. Não podemos conhecer o que não é, o não-ser não é dizível nem pensável. O não-ser é o vir-a-ser (geração) e o deixar de ser (corrupção).

Demócrito
Demócrito. Materialismo atomista. Átomos são infinitamente pequenos e se movimentam no infinito vazio. Eles nos afetam, mas nossas percepções não nos apresentam o mundo pelos átomos, e sim nos oferecem os sentidos das cores, odores, texturas, sons e sabores, propriedades que os átomos não têm. Assim, há um hiato entre o que percebemos (as aparências) e as coisas como são. O que conhecemos sobre a verdade (as propriedades dos átomos) se faz por analogia ao que percebemos. O conhecimento é mediado pelo intelecto e não pelas percepções. As percepções sensórias conduzem apenas à crença, não à verdade. Ceticismo: não existe verdade, ou não podemos descobri-la.
    Criticado por Aristóteles: “Uma coisa pode parecer doce a quem a prova e amarga a outro; de modo que, se todos os homens estivessem doentes ou loucos, exceto dois ou três saudáveis ou sãos, estes pareceriam estar doentes ou loucos, e não aqueles outros” (Aristóteles).
Protágoras
Protágoras: subjetividade, em vez de ceticismo. Homem medida de todas as coisas. Todas as crenças são verdadeiras, mas possuem só uma verdade relativa. Mas o sábio é capaz de modificar para melhor as percepções, que serão, então, melhores, mas nem assim mais verdadeiras que as demais.
Sócrates
maiêutica e aporias
Sócrates: nascimento não é geração, a parteira (de ideias) não gera, ajuda a nascer o que já está pronto para vir à luz. Método socrático: elenchus. Diálogos que terminam em aporia (incoerência ou dificuldade). Teeteto: o conhecimento não está nas sensações, mas no raciocínio sobre elas. Impossível alcançar a verdade pelos sentidos, mas possível pela razão. Opiniões acidentalmente verdadeiras não são ciência (conhecimento?). Conhecimento (ciência?) é opinião verdadeira justificada? Parece que não, conforme a “teoria do sonho” (?). Conclui rejeitando três conceitos de logos: a) discurso ou enunciado, b) enumeração dos elementos de x, c) indicação do “semêion” ou diáfora, isto é, sinal ou característica diagnóstica em que x difere de qualquer outra coisa.
Platão
Platão, temática dos diálogos: [2]
  1. da fase socrática: a) Laques, coragem; b) Cármines, temperança; c) Lísis, da amizade; d) Hípias maior, beleza; e) Hípias menor, ações condenáveis; f) Íon, poética; g) Eutífron, piedade (santidade); h) Críton, obrigação de obedecer.
  2. da fase madura: teoria das ideias, Mênon, Simpósio, Fedro, República), Górgias (sobre retórica), Protágoras (virtude e conhecimento são o mesmo), Crátilo (sobre a linguagem), Fédon (sobre a imortalidade da alma).
  3. da fase tardia: a) conhecimento (Parmênides, Sofista) e b) política (As Leis, Político), c) cosmologia (Timeu), d) relação entre prazer e bem (Filebo).
Teoria das ideias. Ser humano faz parte de nosso ser. Aquilo que se refere a homem, chamamos humanidade, ou a ideia (ou forma) de homem. Cinco subteses:
  1. Sempre que vários x sejam P, é porque participam (ou imitam) a ideia única de P.
  2. Nenhuma ideia participa de si mesma ou imita a si mesma.
  3. A ideia de P é P, e nada senão isso.
  4. Nada além da ideia de P é verdadeira e completamente P.
  5. Ideias não existem no espaço e no tempo, não tem partes, não mudam, não são captáveis pelos sentidos.
Aristóteles critica a teoria das ideias no argumento do terceiro homem.

Platão tentou conciliar, na epistemologia, dois sistemas antagônicos, o de Parmênides (intelecto pode atingir conhecimento verdadeiro, mas os sentidos não) e o de Heráclito (não podemos atingir conhecimento verdadeiro porque nós e o mundo estamos em permanente mudança (geração e corrupção). Para essa conciliação, dividiu o mundo em dois, o das ideias (perfeitas, imutáveis, constantes, acessíveis à razão e fornecedoras do conhecimento verdadeiro) e o dos sentidos (imperfeito, mutante, corruptível, transitório, território da pura opinião).

Cinco elementos ou condições para conhecermos algo:
  1. o nome
  2. a definição, um composto de substantivos e verbos
  3. a imagem, o desenho que traçamos, e que tem fim
  4. o conhecimento em si mesmo: o entendimento e a opinião verdadeira relativa ao objeto; eles estão em nossas mentes, e não nos sons proferidos ou nas formas materiais: são coisas distintas do objeto, do nome, da definição e também da imagem; o entendimento é o que há de mais próximo do quinto elemento, por afinidade e semelhança;
  5. aquilo que é conhecível e verdadeiramente real (o “quinto elemento”)
Teoria da reminiscência
Teoria da reminiscência: a Alma é da mesma natureza das ideias, e habitava, antes da Queda, o Hiperurânio (o mundo das ideias). Caída no mundo das aparências, a alma re-conhece os arquétipos ao vislumbrá-los nas “coisas da experiência” sensível.
Aristóteles
Silogismo
Aristóteles. Silogismo: ciência pela causa: para algo ser considerado conhecimento científico é preciso conhecer sua causa necessária (e não por concomitância, como os sofistas). O conhecimento científico é obtido por demnstração, isto é, na transição das premissas até à conclusão por um silogismo.

Há dois tipos de demonstração (ou silogismos), (a) do tipo “que é” e (b) do tipo “por que é”.

Aristóteles não era tão contrário à empiria quanto alguns seguidores (ao contrário do que se pensa). É que, quando seus livros foram redescobertos, árabes e cristãos que os leram eram de sociedades literatas, adeptos de “religiões do livro”, daí que trataram as obras de Aristóteles como livros sagrados (137).

idade medieval

Agostinho
Agostinho de Hipona (354-430). Influenciado por Platão e Plotino (neoplatonismo). Platão cristianizado. Teoria da iluminação divina.

Tipos de verdades:
    (a) lógicas (irrefutáveis, por exemplo princípio do terceiro excluído)

    (b) a respeito de fenômenos imediatos (percepções imediatas), irrefutáveis (por exemplo “sei que este livro é branco”) [3]

    (c) matemáticas (regras interiores da verdade)

    (d) conhecimento das essências
Dessas, (c) e (d) não podem vir dos sentidos (“A pura verdade não pode vir dos sentidos do corpo”). São razões incorpóreas e eternas (equivalentes às “realidades inteligíveis” de Platão); superiores à razão humana, mas ligadas a ela. Localizam-se na mente divina, isto é, existem exclusivamente na mente de Deus.

Teoria da iluminação divina: metáfora do “olho da razão”; Deus é a fonte primária e sua luz nos permite enxergar, como a lâmpada de um projetor
Boaventura
Boaventura de Bagnoregio. Teoria da iluminação divina modificada. Busca resposta ao problema: “se vemos verdades que estão na mente de Deus, porque não o vemos?” Causas do conhecimento:

causa elemento função
material intelecto passivo (dentro da alma individual) recebe o conhecimento
eficiente agente individual do intelecto abstrai o conhecimento a partir das sensações
formal essência da criatura individual conhecida para que a criatura seja “o que” conhecemos (?)
final verdades epistemológicas (?)
eterna ideia divina da verdade (conhecimento daquela verdade em todas as suas instâncias atuais e todos os seus potenciais intuição de verdades universais, necessárias e certas

A certeza requer iluminação divina mas os outros tipos de conhecimento humano (abstração, universalidade e correspondência) advém de causas criadas.
Aquino
Tomás de Aquino (1225-1274). Também adota teoria da iluminação divina. “o intelecto fornece luz que transforma objetos pensáveis em potência no mundo em objetos pensáveis em ato na mente”.

Diferença: para ^^ o intelecto agente é faculdade individual natural humana, é algo na alma humana:
    a. nega influência divina constante nas operações do intelecto humano

    b. a iluminação natural não precisa de iluminação adjunta

    c. diverge de Boaventura / Agostinho, para quem é necessária uma agência externa de uma entidade supranatural sobre a mente humana

    d. diferença está no modo de transmissão do conhecimento: para ^^ o conhecimento é dado (participado?) todo de uma vez, de início; para os demais a iluminação é um processo contínuo.
O intelecto agente reconhece imutavelmente a verdade nas coisas mutáveis (distingue a coisa própria de sua aparência).

Duas ideias radicais: a) homem não tem ideias divinas como objeto de cognição, b) a iluminação divina é insuficiente sem os sentidos.

Conhecimento pressupõe Deus como primeiro motor. A luz intelectual é uma certeza semelhante à da luz não criada e é obtida por participação.

Não há conhecimento inato, inata é a capacidade de reconhecer as verdades. Essa capacidade está nas concepções naturais primeiras, sementes de todas as coisas que conhecemos depois. Conceitos universais (como a princípio da não contradição), reconhecidos de imediato pela luz do intelecto agente, medeiam a recepção de todo conhecimento. Por meio desses princípios universais julgamos sobre outras coisas.
Duns Scotus
Duns Scotus (1266-1308). Influenciado por Agostinho e Platão, contra Tomás de Aquino. Homem tem conhecimento obscuro e incompleto do indivíduo, causando conhecimento turvo dos universais.

A IDEIA É OBJETO IMEDIATO DO CONHECIMENTO
Concorda com Aquino nisto: conhecimento envolve presença de uma representação (presença de uma espécie ou ideia) do objeto na mente. Mas diverge nisto: para Aquino essa ideia está na capacidade do intelecto agente, e para ^^ a ideia é objeto imediato do conhecimento
    Para Aquino o objeto do intelecto está presente na mente porque é um universal, que só existe na mente. Para ^^ a brancura da parede não pode estar no olho nem na mente, que só comportam uma representação daquela brancura (“modelo de consciência sensorial”).
Admite espécies diferentes de conhecimento:
    (a) conhecimento intuitivo: imaginação (faculdade sensorial; conhecimento sensorial): de coisas conhecidas na medida em que está presente em sua existência; divide-se:
      (a1) perfeito: de um objeto existente presente

      (a2) imperfeito: de um objeto que existe como futuro ou passado
    (b) conhecimento abstrativo ou cognição abstrativa (conhecimento intelectual): que está no intelecto porque ele abstrai de toda existência.
O conhecimento abstrativo não versa só sobre verdades abstratas, porque é conhecimento da essência de um objeto, sem levar em conta se o objeto existe. As essências incluem essências individuais. Isso parece dizer que poderíamos ter conhecimento de P sem que P seja o caso (exista).
Occam
Guilherme de Occam (1288-1347). Nominalismo. Objetos da apreensão são a) termos e b) proposições simples.

Podemos ter um pensamento complexo sem fazer juízo dele, mas não podemos fazer juízo sem apreendermos o conteúdo do juízo. Logo, conhecimento envolve a) apreensão E b) juízo dos termos simples que entram no pensamento complexo.

O conhecimento de um termo simples pode ser:
    (a) abstrativo: conhecimento da essência (independe da existência e das propriedades contingentes do objeto); não pode conhecer verdades contingentes ; divide-se:
      (a1) sensorial: refere-se só aos sentidos

      (a2) intelectual: refere-se a verdades contingentes que só existem em torno de nossa mente (nossos pensamentos, emoções, prazeres e dores), e não são perceptíveis pelos sentidos
      (a2) intelectual: refere-se a verdades contingentes que só existem em torno de nossa mente (nossos pensamentos, emoções, prazeres e dores), e não são perceptíveis pelos sentidos
    (b) intuitivo: conhecimento da existência do objeto; só este tipo de conhecimento pode conhecer verdades contingentes

concepção de ciência na idade moderna

Em suma, a história da ciência na idade moderna é a história do embate entre racionalismo (concepção hipotético-dedutiva da ciência) e empirismo (concepção hipotético-indutiva), culminando no apriorismo, a terceira via proposta por Kant.
    Em qualquer época ou corrente, havia uma preocupação comum: achar axiomas, princípios ou leis que pudessem descrever, justificar e prever com rigor e certeza um fenômeno.
Tempo cronológico vs. tempo lógico; este, conduzido por uma pergunta-guia.

A Reforma: para a igreja católica só os iluminados (sacerdores) podiam atingir conhecimento das escrituras; para reformistas esse conhecimento é acessível a todos que se dedicarem ao estudo.
Montaigne
Montaigne (†1592), Ceticismo e Humanismo, influência de [Sexto Empírico] e [Lucrécio]. Visava provar que não existe conhecimento real. Extrapola a falsidade (falibilidade) dos sentidos para a razão, pois ambos se influenciam mutuamente. “(...) como não podemos encontrar um juiz imparcial (...) nenhum ser humano seria capaz de dissolver os conflitos entre as experiências do jovem e do velho, do saudável e do enfermo, do adormentado e do desperto”.
Descartes
Descartes (†1650). Materialismo minimalista: as propriedades da matéria são apenas extensão e movimento. Criticado por Isaac Newton (quanto à física).Ceticismo metódico hiperbólico. “O decisivo campo de batalha entre a certeza e a incerteza é o próprio eu”.

Parte das ideias nítidas, estáveis e certas, como as da matemática (figura e número): todos as concebem da mesma maneira, são o substrato inato do pensamento. A partir delas pode-se construir uma cadeia de razões. Mas o que garante que as ideias claras e distintas correspondem a algo real? Hipótese do gênio maligno.

O cogito, ergo suum tem uma repercussão na metafísica porque significa o encontro, pelo pensamento, de algo que subsiste, de uma substância.

^ quis uma ciência imitadora da matemática, com base só nas proposições da aritmética e geometria. Considerou-se mal entendido na questão da dúvida sistemática, que alguns tornaram extensiva “às ações da vida” desprezando “o uso da prudência para se conduzirem”.

Com ^ vem uma crise no pensamento aristotélico, e a urgência de se estabelecer um novo método de fazer ciência. “Muito melhor jamais pensar em procurar a verdade de alguma coisa a fazê-lo sem método”.

O método: duas atividades levam ao conhecimento seguro: (a) intuição e (b) dedução.
    (a) “conceito que a inteligência pura e atenta forma com tanta facilidade e clare] que não fica absolutamente nenhuma dúvida”; requer uma evidência atual;

    (b) modo por meio do qual entendemos toda conclusão necessária tirada de outras coisas conhecidas com certeza; é uma sucessão dependente de princípios verdadeiros;
Sabemos a maioria das coisas com certeza sem que sejam evidentes porque as deduzimos de princípios verdadeiros e conhecidos, por meio de “um movimento contínuo_e sem _nenhuma interrupção do pensamento”.

Esse movimento segue uma ordem: as coisas propostas primeiro devem ser conhecidas sem a ajuda das seguintes, e as seguintes dispostas de forma que sejam demonstradas pelas precedentes. Dois métodos de demonstração:
    (a) análise ou resolução: parte do complexo para chegar ao simples; mostra o verdadeiro caminho por meio de que uma coisa foi metodicamente descoberta; mostra como os efeitos dependem das causas; é a ordem em que se descobre a verdade; (m.c.: corresponde à indução?)

    (b) síntese ou composição: método dos geômetras, parte do simples (axiomas) para chegar ao complexo; examina as causas por seus efeitos; demonstra o que está contido na conclusão, mas não mostra o método da descoberta; é a ordem com que se reconstrói o processo depois de ter descoberto uma verdade; (m.c.: corresponde à dedução?)
análise síntese
parte do complexo para chegar ao simples parte do simples (axiomas) para chegar ao complexo
mostra o verdadeiro caminho por meio de que uma coisa foi metodicamente descoberta demonstra o que está contido na conclusão
mostra como os efeitos dependem das causas examina as causas por seus efeitos
é a ordem em que se descobre a verdade ordem com que se reconstrói o processo depois de ter descoberto uma verdade
corresponde à indução? corresponde à dedução?

O método começa, então, por distinguir as coisas simples das complexas, distribuindo-as em série por ordem de complexidade.

Depois, separar as coisas absolutas (contêm em si a natureza pura e simples sobre o que versam) das relativas (reportam-se ao absoluto).

Necessário descobrir sob qual razão estão conectadas tantas verdades particulares, isto é, que proposição mais universal (absoluta) explica as proposições particulares ou relativas

UM SUPER-RESUMO DO MÉTODO CARTESIANO
O método, em resumo, tem 4 passos:
    1º. não considerar verdadeiro o que permitir qualquer dúvida (evitar precipitação e preconceito);

    2º. dividir as dificuldades em tantas partes quanto possível,

    3º. examinar do mais simples para o mais complexo;

    4º. enumerações completas e revisões gerais.
Mathesis universalis: os filósofos do passado “haviam conhecido uma espécie de matemática muito diferente da comum de nossa época” (?). A ^^ que Descartes busca não é a “matemática comum” mas um outro conhecimento de que aquela é só a vestimenta, um conhecimento que contém “os primeiros rudimentos da razão humana”.
Locke
Locke (†1704), Empirismo. Diante da impossibilidade de o conhecimento humano captar as essências reais e conexões necessárias entre as qualidades, ^^ propõe um terceiro tipo de conhecimento, o conhecimento sensível, que é menos que ciência mas mais que opinião.
    a. Em vez de saber sobre as essências (causas básicas das propriedades que percebemos), conhecemos só as propriedades percebidas e delas construímos essências nominais.

    b. Em vez de saber sobre as conexões necessárias conhecemos só coexistência de propriedades. Mesmo sendo particulares contingentes, e somente prováveis dora do âmbito do particular observado, podem ser chamadas de conhecimento.
Locke distingue qualidades primárias (objetivas, como as formas) de secundárias (subjetivas, como as cores). Veja aqui.
Leibniz
Leibniz (†1716). Indução e experiência não são suficientes para fundamentar a necessidade de uma proposição; logo, as verdades necessárias como as da matemática e da geometria devem ter princípios cuja prova não dependa de exemplos, pressupõem algo que não é puro dado da experiência.

Ideias inatas. Há em nós ser, unidade, substância, duração, e podemos apreender em nós mesmos essas realidades e formar ideias sobre elas. Tais ideias decorrem do conceito de mônada e de percepção inconsciente.

Diferença entre Locke e Leibniz: para o 1º a ideia é um objeto imediato de nosso conhecimento, e para o 2º ideia é um objeto interno, expressão da natureza ou das qualidades das coisas.
    Os objetos externos sensíveis não podem agir na alma imediatamente, são objetos mediatos. Só Deus é objeto interno imediato. “A alma é de fato um microcosmo, no qual as ideias distintas são um a representação de Deus, e as ideias confusas são uma representação do universo”.

    Sobre isto , ^^ rejeita a distinção: todas as qualidades são fenômenos.
Kant
Kant (†1804). Influenciado por Hume.

Distingue diferentes tipos de proposição nos aspectos epistemológicos e lógicos (v. n.18).

tipos de conhecimento
E distingue dois tipos de conhecimento:
    a) “a posteriori”, derivado da experiência, e

    b) “a priori”, independendente de qualquer experiência; verdades universais e necessárias.
tipos de juízo
Distingue também dois tipos de juízo:
    a) analítico: o predicado pertence ao sujeito como algo contido implicitamente no seu conceito (por exemplo, todos os corpos são extensos; extensão é parte do conceito de corpo); todos os juízos analíticos são “a priori”.

    b) sintético: o predicado jaz totalmente fora do conceito (por exemplo, todos os corpos são pesados; pesado não explica o conceito de corpo).
metas de Kant
Kant queria a) definir proposições que fossem universais, b) provar que há proposições sintéticas “a priori” (porque a existência delas é condição de possibilidade da metafísica) e c) determinar as condições de possibilidade de tais proposições.
    O conhecimento de matemática é “a priori” mas certas verdades da geometria são sintéticas, por exemplo: a reta é a distância mais curta entre dois pontos: o conceito de reta não contém nada de quantitativo. A física tem também juízos sintéticos “a priori” como a lei da conservação da matéria.
origem do conhecimento, conteúdos e função das categorias
O conhecimento resulta da combinação de conteúdos advindos dos sentidos e operações do entendimento (que tornam aqueles conteúdos pensáveis). A experiência fornece dados do mundo segundo as formas da a) sensibilidade, b) do espaço, c) do tempo, ou d) das intuições sensíveis, e disso temos o conteúdo. O entendimento, por meio de suas categorias, estrutura esses conteúdos em conceitos.
    a. Experiência: fornece o conteúdo (dados do mundo)

    b. Entendimento: estrutura o conteúdo em conceitos.
O experimentado é classificado e codificado, isto é, submetido pelo entendimento a um ou mais conceitos.

conceito e juízo
Além da faculdade do entendimento, temos a faculdade do juízo; o 1º a) opera palavras individuais e b) forma o conceito; e o 2º a) opera sentenças inteiras e b) aplica o conceito. Um conceito é nada mais que poder fazer juízos sobre coisas.

faculdade opera com o que faz
entendimento palavras individuais forma conceitos
juízo sentenças inteiras aplica conceitos

Tábua do juízos de Kant

    forma lógica
qualidade afirmativos S é P
  negativos S não é P
  indefinido S é não P
quantidade universais todo S é P
  particulares algum S é P
  singular este S é P
relação categóricos S é P
  hipotéticos se S, então P
  disjuntivos ou S ou P
modalidade assertóricos S é P
  problemáticos é possível que S seja P
  apodíticos é necessário que S seja P

Tanto juízos quanto conceitos podem ser empíricos ou a priori. Juízos a priori são chamados princípios, e conceitos a priori chamados categorias.

as leis da natureza são impostas pelo próprio intelecto
O objeto do conhecimento é uma unidade, e esta não pode vir do que é dado pela sensibilidade: vem do entendimento (unidade da consciência). A presença unificadora do entendimento constrói o objeto, e isso explica como são possíveis juízos sintéticos a priori.. O objeto é constituído pela atividade unificadora do intelecto; logo, as leis da natureza podem ser conhecidas a priori, sem generalização da experiência, porque tais leis são impostas pelo próprio intelecto; este, com suas categorias, constitui o objeto da experiência, logo, é autor deste, e não espectador.

As categorias são conceitos a priori (não são derivadas da natureza): são conceitos que prescrevem leis a priori aos fenômenos. As leis não existem no fenômeno, só em relação ao sujeito a que o fenômeno é inerente.
filosofia natural
DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA NATURAL E CIÊNCIA
Distinção entre (a) filosofia natural (também chamada filosofia da ciência natural) e (b) ciência (antes chamada ciência da física):
    (a) busca entendimento dos conceitos que usamos na descrição de fenômenos naturais (como espaço, tempo, movimento), e

    (b) quer explicar os fenômenos em si mas não por raciocínio a priori e sim por observação, experimento e hipótese.
Método científico, como se entende hoje: 4 estágios:
    observação sistemática do fenômeno

    proposição de teoria

    teoria deve prever fenômenos futuros não observados anteriormente

    teste empírico da previsão
Em todos os estágios acima a matemática é crucial:
  1. na medição dos fenômenos e do resultado do experimento
  2. na formulação de hipóteses
  3. na derivação das consequências esperadas
Quatro filósofos contribuíram para esse consenso: (a) Aristóteles (v. aqui), (b) Galileu, (c) Bacon e (d) Descartes.
    (a) propôs um modelo irreal de ciência com base na geometria (ramo mais avançado no seu tempo, gerando um sistema axiomático a priori

    (b) mais aqui

    (c) ver aqui

    (d) ver aqui
Galileu
[Galileu] († 1642). Contra a ciência literata, avesso ao dedutivismo lógico não observacional. Propôs ciência rigorosa como a geometria: começar pelas definições e axiomas para chegar à demonstração de teoremas. Definições devem ter por base a experiência.

Único a apreciar o papel da matemática na ciência: o livro da natureza foi escrito na linguagem da matemática: em vez de tipos, tem-se triângulos, círculos, etc. Pressuposto: desvendar essa linguagem.

É com Galileu que surge a ideia de um novo tipo de saber, o que hoje chamamos ciência, separado da filosofia (1º a contradizer a ideia de Aristóteles para quem só existe um tipo de saber, subdividido em três graus, física, matemática e metafísica).

Criou o método de formulação de hipóteses e deduzir previsões a serem verificadas pela experiência.

Característica principal: não especula sobre essências para, com base nelas, deduzir teoremas; reduz uma essência (ou propriedade) do fenômeno a uma definição matemática: define a essência, expressa matematicamente, conforme seu comportamento observado.
Bacon
Dedicou-se à descrição dos procedimentos para coleta sistemática dos dados empíricos (mas considerava a matemática como mero apêndice da ciência). A ciência dos antigos, puramente contemplativa, é estéril; necessária nova ciência, orientada para a técnica.

Objetivo: dominar a natureza (“dotar o homem de novas descobertas e substâncias”). Proposta: uma 3ª via entre ceticismo e dogmatismo.

Método: indução: não passar da experiência dos particulares diretamente aos axiomas, mas ir-se gradativamente, passando pelos axiomas menos universais.

Vencer os ídolos: a mente não é tabula rasa, nem um plano ideal do mundo em sua totalidade; ao contrário, é como um espelho curvo com distorções implícitas (os “ídolos”, as falácias mais profundas da mente humana, “predisposição corrupta e mal-ordenada do espírito (...) perverte e infecta todas as antecipações do intelecto”):
    1º, ídolo da tribo: influência da vontade e dos afetos, leva a afirmar o que é agradável em vez do que é verdadeiro

    2º, ídolo da caverna: educação, costumes, experiência contingente

    3º, ídolo do foro (mercado): uso das palavras sem entender o significado

    4º, ídolo do teatro, preconceitos recebidos de sistemas filóficos tradicionais, que se assemelham a mundos ficcionais nunca testados
Método em 4 etapas:
    1º, tábua de presenças, enumerar todos os fatos nos quais se apresenta o fenômeno

    2º, tábua de ausências, enumerar casos diferentes onde o mesma fenômeno está presente

    3º, tábua de gradação, casos onde a natureza estudada está parcialmente presente

    4º, primeira vindima, isto é, 1ª hipótese, a ser testada a seguir
Newton
[Newton] concebeu uma estrutura matemática do mundo: o mundo como uma máquina regulada por leis exprimíveis mecanicamente, onde não há lugar para imprevistos causados por almas ou forças vitais.

Propôs: (a) existência de forças da natureza que podem não ter explicaçao em termos de matéria ou movimento e (b) uma única lei para reger não só os corpos em queda na Terra como em qualquer lugar.

idade contemporânea

introdução: construtivismo

Superando o dualismo da idade moderna (concepção hipotético-dedutiva contra concepção hipotético-indutiva da ciência), surge uma nova concepção de ciência, o construtivismo: ciência como uma construção de modelos explicativos para a realidade, em vez de uma representação da própria realidade. Modelo como uma aproximação corrigível do fenômeno ciência.

ASPECTOS DO CONSTRUTIVISMO
O construtivismo aproveita, (a) do racionalismo, a garantia de estabelecer axiomas e definições sobre o objeto científico; (b) do empirismo, o uso da experiência como guia nas modificações da teoria.

A teoria é exatamente o conjunto de axiomas, postulados, definições e demonstrações.

O objeto é ao mesmo tempo uma construção lógico-intelectual e uma construção experimental.

O conceito de ciência: atividade que busca explicar e prever aproximativamente os fenômenos com base na experiência e coerência interna do modelo axiomático.

A meta não é encontrar uma verdade absoluta, mas uma aproximação capaz de produzir resultados satisfatórios e condizentes com a experiência. A verdade deixa de ser justificação da ciência. A filosofia da ciência não busca mais justificar o conhecimento verdadeiro, mas a própria atividade científica.

Exigências do ideal de cientificidade:
    1º. coerência (ausência de contradições entre os princípios

    2º. modelos dos objetos construídos com base em observação e experiência

    3º. resultados podem alterar (a) o modelo e também (b) os princípios da teoria, corrigindo-o

Círculo de Viena

Círculo de Viena: grupo de cientistas e filósofos que, na década de 20 do Século XX adotaram postura radicalmente antimetafísica, com base em (a) critério empirista do significado e (b) conceito de matemática amplamente logicizada. Negavam qualquer princípio sintético a priori: todo enunciado científico é a posteriori, isto é, mera constatação. Propuseram o critério da verificabilidade como elemento distintivo da ciência. Integrantes: Rudolf [Carnap], Otto Neurath, Moritz Schlick, Ernst Nagel, Hans Reichenbach, Wittgenstein, no início.
Carnap (positivismo lógico)
Carnap tinha 2 objetivos: (a) eliminar a metafísica da filosofia e (b) apresentar o empirismo lógico como via alternativa para dar significado à linguagem científica. Foi contestado por Quine.

Afirma que a metafísica é (a) falsa porque contradiz o conhecimento empírico, (b) incerta porque seus problemas transcendem os limites do conhecimento humano e (c) suas questões são estéreis (seus enunciados são sem significado).

Proposta de lógica com objetivo de clarificar o conteúdo cognitivo dos enunciados científicos.

O significado de uma palavra dentro de uma linguagem é designado por um conceito (se não, é um pseudoenunciado). Para achar o significado de uma palavra primeiro devemos fixar sua sentença elementar (S).
    Por exemplo, no caso da palavra pedra, a sentença elementar seria “X é uma pedra”, onde X ocupa o lugar de uma categoria de coisas, neste caso “esta pedra”.
Feito isso perguntamos à sentença elementar S: de quais sentenças S é dedutível e quais sentenças são dedutíveis de S.
    Por exemplo: se S for “X é um artrópode”, S é dedutível de premissas como “X é um animal”, “X tem um corpo segmentado”, etc. (são os elementos do conceito de artrópode).
É por meio dessas estipulações sobre a dedutibilidade (isto é, sobre as condições de verdade, o método de verificação) que o significado é fixado; todas as palavras da linguagem são reduzidas a outras e ocorrem em sentenças protocolares.
    Enunciado protocolar: parece que são enunciados sensoriais (de fatos apuráveis na experiência) (v. p. 168). Todavia, em J2001d o ^^ é descrito como aquele que só tem significado “pelo conjunto lógico”, ou seja, pelo conjunto das “transformações analíticas” em que se integra; seria o equivalente ao que a lógica antiga denominava “convenção”. Isso condiz com a ideia do Círculo de uma lógica simbólica que é mera convenção e nada ensina sobre o mundo. Mas diz também que esses enunciados devem ser meras constatações.
O significado da palavra é definido pelo seu critério de aplicação (as (a) relações de dedutibilidade, (b) relações de verdade e (c) o método de verificação). Não há liberdade para decidir o que seja significar: o significado do termo está implícito no critério. Assim, para uma palavra ser significativa depende das seguintes formulações, que, na prática, dizem o mesmo:
    1º. os critérios empíricos para X são conhecidos

    2º. foi estipulado a partir de quais sentenças a sentença elementar de X é dedutível (corresponde a (a))

    3º. as condições de verdade da sentença elementar foram fixadas (equivale a (b))

    4º. o método de verificação da sentença elementar é conhecido (corresponde a (c))
Logo, uma sentença deve ser usada para afirmar uma proposição empírica. O que está além da experiência sensível não pode ser dito ou questionado.

Enunciados significativos dividem-se em (a) lógicos (verdadeiros em virtude da forma) e (b) empíricos (verdadeiros em virtude da experiência). Logo, só ciência empírica e lógica são capazes de proferir verdades.

Quine

Quine contestou [Carnap]. Critica dois dogmas do empirismo:
    1º. O conceito de analiticidade, ou a divisão, considerada incontestável desde Kant, entre enunciados analíticos e sintéticos. Afirma que nenhuma definição do conceito de analiticidade permite reconhecer enunciados analíticos (isto é, necessariamente verdadeiros) na linguagem natural.

    2º. A fé na possibilidade de reduzir qualquer enunciado da linguagem a um enunciado protocolar, isto é, sensorial (m.c.: fortes dúvidas sobre essa conceituação).
Propõe como alternativa o empirismo moderado, sem dogmas, onde o sistema teórico se funda na experiência mas com revisibilidade dos enunciados em função de questões de fato.
    m.c.: Em suma, o que Kant chamaria de enunciados analíticos a priori não existe porque nenhum enunciado é necessariamente verdadeiro e todos podem ser revistos se contrariados pela experiência.

Karl Popper

Popper (†1994): rejeita a tese indutivista (a indução como método científico), e a ideia de verificacionismo nas ciências empíricas, por ser impossível prová-lo; e propõe, em troca, o método do falseacionismo.
    A tese indutivista tradicional defende que a ciência se baseia em observações neutras que ascendem a teorias de forma gradual e cumulativa pela indução de leis universais. Popper afirma que temos acesso à realidade por meio de expectativas e conjecturas, sendo a ciência feita de conjecturas e refutações.
O problema da demarcação é o de traçar uma linha que separe da melhor forma um sistema de informações científicas de outras afirmações (religiosas, metafísicas, pseudocientíficas). A solução é o critério da refutabilidade: só é científica a afirmação refutável por observações possíveis ou concebíveis. Mas a refutabilidade não tem relação com sentido ou significado, veracidade ou aceitabilidade.

A indução nunca foi usada de fato na ciência, porque não existe observação pura: toda observação é carregada de teoria (defende, pois, o impregnacionismo teórico das investigações). Não existe metodologia única específica da ciência. Ciência, como qualquer atividade humana, consiste amplamente em solucionar problemas. As hipóteses (ou teorias) surgem livremente, inclusive da pura inspiração: as regras metodológicas só são usadas para o teste empírico da hipótese.

Substitui a indução pela falseabilidade: uma teoria é científica se for refutável por um evento concebível. Toda teoria científica é proibitiva de eventos particulares (faz uma predição de risco). Quanto mais proibitiva (quanto maior o risco de a predição ser contradita), melhor é a teoria.

Todo teste genuíno de uma teoria científica é uma tentativa de refutá-la.

Toda teoria científica pode ser falseada, mas nenhuma verificada logicamente (todas são falseáveis e nenhuma conclusivamente verificável). Pode, quando muito, obter um alto nível de corroboração. “Embora nunca se possa dizer legitimamente de uma teoria que ela é verdadeira, pode-se confiantemente dizer que ela é a melhor disponível, que é melhor do que qualquer coisa que veio antes” (Chalmers).

Não existem, para ^, ideias inatas, mas há reações ou respostas inatas, que podem ser expectativas, que têm relação estreita com conhecimento. Conhecimentos que não são válidos a priori são psicológica ou geneticamente apriorísticos. Por exemplo, uma expectativa importante é a de encontrar regularidades.

A atitude científica é a atitude crítica. A atitude dogmática é pseudocientífica. Fora do campo da lógica e da matemática não existem provas. Exigir prova racional para conhecimento científico é falha na distinção entre o campo da racionalidade e o da certeza racional (esta não pode ser atingida) (226).

Kuhn

Com Thomas Kuhn deixa-se, pela primeira vez, de falar em ciência como busca da verdade. A ciência normal progride de paradigma em paradigma, e cada paradigma opera como uma rede interpretativa que guia a investigação (defende, pois, o impregnacionismo teórico das investigações).

^ trata da estrutura das revoluções científicas (episódios de mudanças nos compromissos dos cientistas), que seguem um caminho cíclico: (a) atividades desorganizadas (ciência pré-paradigmática), (b) ciência normal, (c) época de crise, (d) ciência extraordinária, (e) revolução científica e (f) nova ciência normal.

O ensino científico é repleto de crenças e se assemelha à teologia. O aprendizado é destinado a preservar e disseminar a autoridade de um corpo já articulado de teorias. A principal atividade do cientista é a solução de quebra-cabeças: já sabem de antemão qual é o resultado esperado (encaixar o fenômeno no paradigma).

Quando surgem anomalias (fenômeno que não cabe no paradigma) há crise, e em (d) há disputa para habilitar um novo paradigma. Eventualmente da anomalia resulta a assimilação: a teoria paradigma sofre uma adaptação e incorpora a anomalia, e a isso se chama “descoberta”. A teoria passa a explicar um número maior de fenômenos.

Os paradigmas rivais são incompatíveis e incomensuráveis (irredutíveis a uma medida comum). Por isso o debate parece um diálogo entre surdos (comunicação falha).

Cientistas dificilmente abandonam seus paradigmas. A substituição do paradigma velho por um novo depende de uma combinação de fatores, como este resolver as anomalias do antigo, ser mais preciso quantitativamente, predizer novos fenômenos, ter maior poder de persuasão.

Por que a ciência não busca a verdade? Porque quando um novo paradigma é adotado, isso visa solucionar as anomalias, mas paralelamente muitos dos problemas antes considerados relevantes são abandonados (179).

o círculo hermenêutico e as ciências humanas

Friedrich Ast criou o círculo hermenêutico (abr. loc.: Σ). Diz: “A lei fundamental de toda compreensão e de todo o conhecimento é encontrar o espírito do todo a partir do singular e apreender o singular através do todo”. Shleiermacher: “do mesmo modo que o todo é compreendido a partir do singular, também o singular só se deixa compreender a partir do todo”. A parte refere-se à relação texto-frase, e o todo à relação autor-texto.

Heidegger (†1876) e Gadamer (†2002) deram nova dimensão ao Σ, estendendo-o à relação, também circular, entre pré-compreensão do intérprete (inclusive a sua autocompreensão) e o interpretandum. Nossa experiência do mundo é condicionada pelo horizonte do intérprete, de forma que a compreensão está sujeita a uma estrutura de antecipação ou rede conceitual.

“Nosso acesso à realidade é necessariamente condicionado por um horizonte de compreensão ou um conjunto de concepções prévias que permitem a atribuição de sentido às coisas, à experiência” (Gadamer).

Preconceito é pré-condição para a inteligibilidade, e por isso não pode ser eliminado. Compreensão é fusão de horizontes. “Interpretar não é reconstruir na sua integridade um sentido preexistente à interpretação, mas recontextualizar o objeto da interpretação no horizonte do intérprete” (Silva).

Gadamer sugere 3 estratégias contra a arbitrariedade interpretativa (ou relativismo hermenêutico):
    (a) comunidade de tradição: a pertença de intérprete e interpretandum a uma tradição comum limita o perigo;

    (b) coerência: uma projeção de sentidos ou preconceitos inadequados a um texto não permite um relato coerente;

    (c) presunção de verdade do que é dito: deve-se presumir a verdade do texto, e isso restringe as interpretações possíveis.
Davidson enuncia (c) como princípio da caridade, pelo qual um intérprete deve necessariamente considerar que o falante é, em geral, coerente e que tem um conjunto de crenças amplamente verdadeiras (ou, por outras palavras, “na interpretação de entidades ou acontecimentos com sentido, o ponto de partida é constituído por pressuposições de racionalidade”) (198). Na interpretação da fala de uma pessoa pressupomos coerência, racionalidade e consistência, de modo que interpretar é racionalizar o comportamento de outra pessoa com base em nosso sistema de crenças e valores.

Da noção de Σ tira-se uma crítica ao objetivismo nas ciências humanas. Nelas os entes são interpretados a partir de um horizonte de compreensão que inclui a tradição cultural e práticas sociais do intérprete (ao contrário do que ocorre nas ciências naturais, que descontextualizam o ente). Por isso as ciências humanas não oferecem conhecimento objetivo, mas uma multiplicidade de perspectivas sobre a realidade. A interpretação envolve projeções e antecipações de sentido com base em pressupostos ou preconceitos do intérprete.

Charles Taylor: opõe-se a uma concepção nomológica das ciências sociais orientada à descoberta de relações causais: o comportamento só pode ser estudado à luz dos sentidos das ações e instituições. Daí que as ciências humanas “envolvem necessariamente a interpretação e um movimento circular de validação de interpretações com base noutras interpretações” (Silva).

Taylor: “o estudo do comportamento humano não pode ser reduzido à procura de regularidades ou generalizações de tipo nomológico, uma vez que ele é caracterizado de forma essencial por ter sentido” (Silva). Logo, esse comportamento é holístico porque envolve necessariamente não só a relação entre sujeito e objeto mas também um campo de contrastes segundo o qual um sentido é identificado em relação com outros sentidos.

Por isso a interpretação varia em função do repertório de sentimentos, situações e conceitos que o intérprete traz consigo: as ciências humanas baseiam-se em leituras de sentidos, e não em dados brutos, e seu estudo requer Intuição. Logo, haverá divergências (193).

A aplicação do Σ é originária da interpretação de materiais com sentido (textos, obras de arte, ações) mas cabe nas ciências naturais porque (a) os fatos que permitem refutar uma teoria só podm ser descobertos a partir de outra teoria (Feyerabend); (b) o Σ permite distinguir entre categorias e premissas (m.c.: segundo parece as premissas seriam os preconceitos, as conjecturas, em que se baseia a teoria pré-empírica); (c) por meio de confronto com outras perspectivas é que tomamos consciência dos nossos preconceitos.

Taylor: humanos são animais autointerpretantes; regularidades no comportamento humano, mesmo que estáveis, não devem ser confundidas com regularidades naturais.

técnica e tecnologia

Trata-se aqui da tecnologia como a problema filosófico. Há diferença entre
    (a) técnica (de épocas e culturas passadas); capacidade humana de modificar deliberadamente materiais, objetos e eventos, produzindo elementos novos, não existentes na natureza; produção de “arte-fato”; com base em saber vulgar;

    (b) e tecnologia (contemporânea, com base em ciência experimental); modo de vida; técnica de base científica; seria o estudo científico do artificial, porque vai além da aplicação de um saber-fazer, pergunta-se por um saber teórico e busca aperfeiçoamento.
Artefato é algo artificial, que não precisa ser uma coisa, pode ser também uma modificação no estado de um sistema natural. Toda coisa, estado ou processo controlado ou feito deliberadamente com ajuda de algum conhecimento aprendido e utilizável por outros.

Técnica e tecnologia supõem conhecimentos estabelecidos ou novos. E toda produção delas implica valores.

Teorias tecnológicas são em geral de dois tipos:
    (a) substantivas, fornecem conhecimento sobre objetos de ação, por exemplo a teoria do voo; aplicam teorias científicas a situações reais (a teoria do voo é uma aplicação da dinâmica de fluidos);

    (b) operativas, tratam de ações de que depende o funcionamento de artefatos (por exemplo a teoria sobre gestão de tráfego aéreo); têm caráter tecnológico porque se aplicam diretamente à ação e combinam conhecimento ordinário, ciências formais e conhecimentos especializados não científicos.
Os excessos da tecnologia derivam do código moral nela implícito (teoria da neutralidade axiológica da tecnologia), e que separa o homem da natureza autorizando-o a submetê-la e isentando-o de responsabilidade.

Borgmann: tecnologia é o modo tipicamente moderno de o homem lidar com o mundo. Como esse paradigma é intrínseco à vida cotidiana, passa despercebido. O modo de vida acaba por implicar uma tendência reducionista de quaisquer problemas a uma relação entre meios e fins. Mas os dispositivos são meios sem fins, independentes de contexto, pois o consumo é um fim em si mesmo.

super-resumo

1. concepção de conhecimento científico, 29-30

Diferença entre ciência e senso comum. Ambos fazem previsões com base na experiência, mas as da ciência têm dois diferenciais: (a) método geral e rigoroso e (b) vinculação a um modelo teórico, inserido num complexo teórico maior e conectado a outras teorias

2. concepção de saber comum, 28-29

Funda-se num princípio generalizante que estende para acontecimentos futuros as observações de acontecimentos passados (reconhecimento de padrões?). Expectativa de que os fatos se repitam. Princípio da indução. A natureza se repete segundo certa ordem. Previsões.

3. Por que a pergunta “que é ciência” é filósofica? 32-33

Com base nas definiões de filosofia de Hessen, autorreflexão sobre suas funções valorativas teóricas e práticas, tentativa do espírito humano de atingir uma visão de mundo. Como a ciência faz parte do mundo, e é um tipo de visão de mundo, e é dotada de funções teóricas e práticas sujeitas à valoração, cabe no âmbito da filosofia.

Conforme Porta, a filosofia é construção plena da racionalidade, e, pois, tem de estudar a ciência, que é um dos modos de utilização da razão.

4. oposição entre ciência e senso comum, 62

A ciência
  1. constrói seu objeto de estudo por meio de um conjunto de atividades (a) intelectuais, (b) experimentais e (c) técnicas
  2. usa método para separar os elementos objetivos e subjetivos do fenômeno
  3. constrói o fenômeno como um objeto do conhecimento controlável, verificável, interpretável e retificável
  4. relaciona fatos isolados numa explicação racional unificada (teoria geral)
O senso comum tem dois problemas
  1. o problema da indução: o fundamento do princípio da indução é ele mesmo
  2. Indeterminação da causa: baseia-se na relação lógica entre A e B, mas relações lógicas são incapazes de determinar a causa das questões sobre fatos
5. conhecimento científico para Aristóteles, 86-87

Só é científico o conhecimento se é conhecida a causa do fenômeno. Esse conhecimento se adquire por demonstração (transição das premissas à conclusão). O contrário é conhecimento sofístico, por concomitância.

6. origem do conhecimento matemático e verdadeira essência do que nos cerca conforme Agostinho, 91

Os conhecimentos verdadeiros (matemáticos e das essências) não podem vir dos sentidos. Referem-se a razões incorpóreas e eternas, imutáveis, superiores à razão humana mas ligadas a ela. Essas realidades inteligíveis existem só na mente de Deus. Temos acesso a elas pela iluminação divina. Olho da razão, luz divina funciona como a luz de projetor. Influência divina constante nas operações do intelecto humano.

7. Função do intelecto agente na teoria da iluminação de Aquino, 95-96

O intelecto agente é faculdade natural humana: não depende da agência externa de uma entidade supranatural.

O intelecto agente fornece luz que transforma objetos individuais pensáveis em potência no mundo em objetos pensáveis em ato na mente.
Sua luz permite distinguir as coisas próprias de suas aparências.

Essa iluminação é concedida "de uma só vez", a luz intelectual que está em nós é uma certeza semelhante à da luz não criada, obtida por participação.

8. Por que para Montaigne não existe conhecimento real? 115

Conhecimento não pode vir dos sentidos, porque não são confiáveis. Extrapola a falsidade dos sentidos para a razão, porque ambos se influenciam mutuamente. Não podemos achar juiz imparcial para julgar as diferenças de opinião.

9. A hipótese do gênio maligno e o conceito de cogito em Descartes, 117-8

O decisivo campo de batalha entre certeza e incerteza é o próprio eu. Ceticismo metódico hiperbólico. Impossível duvidar de que duvido. A partir da certeza de que existo, posso consturir uma cadeia de razões, cujos elos são intuídos, uma tessitura de ideias claras e distintas que se sustentam umas às outras.

O ceticismo não leva à impossibilidade de conhecimento mas à primeira certeza absoluta. O cogito tem dois sentidos: (a) paradigma para as intuições que o deverão suceder e (b) no plano metafísico, o encontro de algo que subsiste, de uma substância.

O que garante que tais ideias claras e distintas correspondem a algo real?

10. Síntese dos aspectos que caracterizam o conhecimento verdadeiro em Leibniz e Locke, 123-4

Leibniz: indução e experiência não bastam para provar com certeza. Verdades necessárias como as da matemática e da geometria devem ter princípios cuja prova não dependa de exemplos ou testemunhos dos sentidos. Tais verdades pressupõem algo que não é puro dado da experiência.

Parece dizer que Leibniz e Locke concordam que (a) a reflexão da sensação é fonte de conhecimento; (b) podemos apreender em nós mesmos certas realidades e formar ideias sobre elas (ser, unidade, substância, duração). Tais ideias são inatas. (m.c.: parece absurdo dizer que Locke concorda com ideias inatas!)

Divergência entre os dois:
    (a) Locke considera a ideia como objeto imediato de conhecimento
    (b) Leibniz considera a ideia um objeto interno, expressão da natureza ou das qualidades das coisas
11. Razões para eliminar a metafísica, e os objeto da aplicação da lógica moderna na ciência empírica, conforme Carnap, 165

Porque (a) é falsa, pois contradiz o conhecimento empírico, (b) é incerta, porque seus problemas transcendem os limites do conhecimento humano, e (c) suas questões são estéreis e seus enunciados sem significado (entende significado como conexão lógica entre um enunciado e um enunciado protocolar, isto é, sensorial)

12. Problema da demarcação e a posição de Popper contra a indução e o método indutivo, 170

Demarcar é o problema central da filosofia da ciência: distinguir a ciência da não ciência.

A indução nunca foi usada de fato na ciência, porque não existe observação pura: toda observação é carregada de teoria. Não existe metodologia única específica da ciência. Ciência, como qualquer atividade humana, consiste amplamente em solucionar problemas.
Substitui a indução pela falseabilidade: uma teoria é científica se for refutável por um evento concebível. Toda teoria científica é proibitiva de eventos particulares. Quanto mais proibitiva, melhor é a teoria. Toda teoria científica pode ser falseada, mas nenhuma verificada logicamente (falseável mas não conclusivamente verificável). Pode, quando muito, obter um alto nível de corroboração.

13. A quem Kuhn direciona seus estudos sobre ciência e em que eles consistem? 175

Trata da estrutura das revoluções científicas (episódios de mudanças nos compromissos dos cientistas). Caminho cíclico: (a) atividades desorganizadas (ciência pré-paradigmática), (b) ciência normal, (c) época de crise, (d) ciência extraordinária, (e) revolução científica e (f) nova ciência normal.

O ensino científico é repleto de crenças e se parece com a teologia. O aprendizado é destinado a preservar e disseminar a autoridade de um corpo já articulado de teorias. A principal atividade do cientista é a solução de quebra-cabeças: já sabem de antemão qual é o resultado esperado (encaixar o fenômeno no paradigma).

Quando surgem anomalias (fenômeno que não cabe no paradigma) há crise, e em (d) há disputa para habilitar um novo paradigma. Os paradigmas rivais são incompatíveis e incomensuráveis (irredutíveis a uma medida comum). Por isso o debate parece um diálogo entre surdos (comunicação falha).

14. O que se pode contrapor aos exemplos de Popper sobre psicanálise e psicologia individual em confronto com relatividade geral? 214-215

Qualquer caso pode ser confirmação para a psicanálise e a psicologia de Adler (teoria do sentimento de inferioridade). Por outro lado não se acha comportamento humano capaz de falsear as teorias.
O contrário ocorria com a teoria de Einstein, de que a luz também seria atraída por corpos celestes de grande massa, porque tal teoria faz uma predição de risco, que um único contraexemplo poderia refutar.

15. Sobre o falseacionismo de Popper, qual a solução para o problema da demarcação? 218

O problema da demarcação é o de traçar uma linha que separe da melhor forma um sistema de informações científicas de outras afirmações (religiosas, metafísicas, pseudocientíficas). A solução é o critério da refutabilidade: só é científica a afirmação refutável por observações possíveis ou concebíveis. Mas a refutabilidade não tem relação com sentido ou significado, veracidade ou aceitabilidade.

Fontes e comentários

[1] Isso não parece indicar que também o fundamento da filosofia não é objeto alcançável pela filosofia, e deveria ser objeto de estudo de algo maior, externo? Como no teorema de Godel, um sistema só pode ser explicado de fora, por outro sistema?

[2] Nessa parte, informações de fmon e J2011d.

[3] Há uma distinção complicada entre “parecer” e “fazer um juízo”.